sexta-feira, 8 de agosto de 2008

VERÃO

Noites como essa aconteciam vez por outra em sua vida. O calor alcançava as sombras da madrugada, mas já sem suor. Um luão amarelo, muito quieto, reinventando os céus e as nuvens noturnas, breves. A janela do quarto, aberta para o ar que, de tão fresco, acalentava uma paz por tudo espalhada, e as cortinas descerradas. E descerrados os olhos dela. Deitada ao lado dele, o coração pequenino nem agitava aquela angústia? Queria tanto que ele a abraçasse agora, falasse as coisas certas e a protegesse disso o que fosse que vinha da noite e, sobretudo, da sua vida. Ela não o culpava. Ele estava cansado e ressonava profundamente como a noite profundamente se estendia à eternidade. A inquietação não a deixava fechar os olhos. Pelo olhar, e para o nada, tinha que escapar o que fosse que apertava o seu íntimo. O lençol leve, as costas alvas dele na penumbra do luar vazado nas vidraças e um ramo de sombra fazendo ternura e agitando nenhum arrepio em seu sono tranqüilo. Passou o braço sobre a cintura dele e pousou de leve o rosto sobre suas costas quentes. De tanto amor, um par de lágrimas transbordaram, lentas e tão leves que apenas com muita dificuldade o planeta exercia sobre elas o seu poder titânico. Fizeram um caminho único e atravessado até pousarem, em uma gota gelada (porque já tocada pela noite), o corpo adormecido dele. Tocado, ele abriu os olhos no meio do sono, suspirou profundamente, alternando a melodia da respiração. Mudando de posição, abraçou-a inteira para trazê-la para a paz. E a trouxe.

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