terça-feira, 12 de agosto de 2008

LÍRIO DA AMAZÔNIA

Nasceu a mais de cem quilômetros daqui. Veio no porta-malas, sem ver nada da rodovia, mas sentindo a velocidade e a intempéries da rodovia, como todas as instáveis federais. Veio para comemorar a sala nova, fazer pose e enfeite, adulta já. Chegou em seu vaso de cimento, planta já adulta, de um verde sério. A sala, pela tarde, é ensolarada, se deu bem com tanta luz sem calor excessivo. Teve uns primeiros dias de cuidados, de atenção dada às novidades, amando sua porção de solo, amor visto na seiva forte de seu verde brilhante. No entanto, os cuidados foram se distanciando, o costume pleno de cotidiano foi reduzindo sua figura a uma perpeção naturalizada... ver o vaso de planta como ver uma cadeira... Um dia uma das meninas da limpeza recolheu algumas folhas já mortas e deu-lhe de beber à sede. A planta passou os dias seguintes construindo uma gratidão. Um cacho de flores brancas nasceu, algumas abertas, outras ainda botão. Escondidas entre as folhas largas, ninguém percebeu essa gratidão que é a simples possibilidade de continuar viva. Mas está lá. Vai inchar sua beleza até não ser, mais... ignorada.

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